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06/10/2005 - 13h56
Acadêmicos dizem ter descoberto "verdadeiro" Shakespeare
Por Mike Collett-White
LONDRES (Reuters) - Dois acadêmicos afirmam que descobriram o "verdadeiro" William Shakespeare, que teria sido o político e diplomata Henry Neville. Com isso, desencadearam uma enxurrada de discussões entre os estudiosos do bardo inglês, que já tiveram de protegê-lo contra vários outros candidatos a autores de sua obra.
Os acadêmicos Brenda James e William Rubinstein registraram sua descoberta num livro recém-lançado em que defendem que a autoria das peças de Shakespeare seria na verdade de Neville, político, diplomata e proprietário de terras britânico, que nasceu e morreu quase na mesma época que Shakespeare.
A existência de Shakespeare, autor de dezenas de sonetos e peças que continuam a ser encenadas até hoje, é objeto de disputa desde o século 19. Já se afirmou que Francis Bacon, Christopher Marlowe e até mesmo a rainha Elizabeth I seriam os reais autores de seus textos.
Brenda James, que é britânica, conta que topou com Henry Neville quando decodificava a dedicatória dos "Sonetos" de Shakespeare, o que a levou a identificar Neville como autor das peças.
Ela passou os sete anos seguintes reunindo evidências para comprovar sua proposição. Quando pediu a Rubinstein, da Universidade do País de Gales, que verificasse a veracidade de suas provas, ele se convenceu a tal ponto que concordou em assessorar e co-escrever o livro.
"Quando iniciei o trabalho, eu era agnóstico em relação ao assunto", disse à Reuters o professor Rubinstein, que é americano. "Agora, não sou mais. Eu poderia descrever a descoberta como um raio que caiu do céu sobre mim."
Brenda James disse que um caderno escrito por Neville quando ele ficou encarcerado na Torre de Londres, por volta do ano 1602, contém anotações detalhadas que acabaram constando de "Henrique VIII", encenada pela primeira vez alguns anos mais tarde.
Sua experiência na torre, onde correu o risco de ser executado por participar numa conspiração para derrubar a rainha, também poderia explicar a mudança de tom das obras de Shakespeare, que, a partir de 1601, passam de histórias e comédias para as grandes tragédias ditas shakespearianas.
Henry Neville era um homem culto que viajou pela Europa e era amigo íntimo do conde de Southampton, a quem acredita-se que foram dedicados alguns dos sonetos de Shakespeare.
"Neste momento, não vejo um ponto sequer que não confirme minha teoria", disse Brenda James.
Mas nem todos os especialistas em Shakespeare estão igualmente convencidos.
"Em vista da quantidade de documentação que mostra que William Shakespeare, de Stratford-upon-Avon, foi quem escreveu as peças, só podemos supor que os teóricos das conspirações tenham aderido à história pelo dinheiro que podem receber pela venda de seus produtos bizarros", disse Roger Pringle, diretor da Fundação Shakespeare Birthplace.
Ann Thompson, que leciona inglês no King's College London e é uma das editoras da série Arden Shakespeare, ainda não leu o novo livro, "The Truth Will Out: Unmasking the Real Shakespeare" (A Verdade Virá à Tona -- A Revelação do Verdadeiro Shakespeare), mas tem suas dúvidas.
Uma das principais razões pelas quais James e Rubinstein põem em dúvida a autoria das peças é o fato de que William Shakespeare não teve educação formal e não teria tido familiaridade com os modos e costumes da corte.
"É esnobismo, basicamente", disse Thompson à Reuters. "As pessoas acham que, para escrever como ele escreveu, seria preciso ter tido no mínimo instrução universitária."
Ela argumentou, também, que alguém com o conhecimento da Europa que Neville teria tido dificilmente cometeria os erros geográficos básicos que aparecem no cânone de Shakespeare.